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sexta-feira, 5 de março de 2010

O Vendedor de Sonhos- O Chamado

Segunda-feira iniciei a leitura do livro de Augusto Cury o Vendedor de Sonhos, O Chamado.
Conforme a sinopse, é a narrativa de uma história em que "um homem maltrapilho e desconhecido tenta impedir que um intelectual se suicide. Um desafio que nem a polícia, nem um famoso psiquiatra tinham sido capazes de resolver. Depois de abalá-lo e resgatá-lo, ese homem, de quem ninguém sabe a origem, o nome ou a história, sai proclamando aos quatro ventos que as sociedades modernas se converteram em um hospício global. Com uma eloquência cativante, começa a chamar seguidores para vender sonhos em uma sociedade que deixou de sonhar. Nada tão belo e tão estranho...
Ao mesmo tempo em que arrebata as pessoas e as liberta do cárcere da rotina, arruma muitos inimigos.
Será ele um sábio ou o mais louco dos seres?
Um romance que nos fará chorar, rir e pensar muito".
Ontem, li uma parte em que o vendedor de sonhos adentra em um velório e que seus seguidores, até o momento da minha leitura são: o intelectual,  o bêbado e  o ladrão, ficam com receio, pois sabem que aquele ambiente é feito para o silêncio e para a dor e por isto se afastam um pouco do seu mestre.
Achei interessante a visão que o vendedor passa para os presentes, vejamos:
"- Por que vocês estão desesperados? O senhor Marcos Aurélio não está morto.
...Não lhes peço que silenciem sua dor, mas que silenciem o desespero. Não espero que estanquem suas lágrimas, mas estanquem os altos níveis de angústia. A saudade nunca é resolvida, mas o desespero deve ser aquietado, pois não honra quem partiu.
As pessoas começaram a perceber que o homem de vestes estranhas e barba proeminente podia ser excêntrico, mas era inteligente. O filho do morto, Antônio ( 12 anos), e a esposa, Sofia, fixaram-se nele.
Em seguida, com ar de serenidade difícil de definir, adicionou:
-Marco Aurélio viveu momentos incríveis, chorou, amou, se encantou, perdeu, conquistou. Vocês estão aqui tristes com sua ausência, mergulhados num sentimento de vácuo existencial, porque  o estão deixando morrer no único lugar em que ele tem de continuar vivo. Dentro de vocês.
Vendo as pessoas mais interiorizadas, usou novamente seu penetrante método socrático:
- Que cicatrizes Marco Aurélio deixou em suas emoções?
Onde ele influenciou seus caminhos? Que reações marcaram sua maneira de ver a vida? Que palavras e gestos perfumaram seus intelecto? Onde este homem silencioso ainda grita nos recônditos de suas histórias?
Após proferir essas perguntas sequencialmente, o vendedor de idéias deu um choque de lucidez em todos os que ouviam sua voz, inclusive em nós, que o seguíamos. Mais uma vez ficamos envergonhados pela nossa falta de sabedoria e sensibilidade. Ele refez a pergunta inicial que abalara os ouvintes:
- Este homem está vivo ou morto dentro de vocês?
As pessoas disseram que estava vivo. Imediatamente ele fez um comentário que tirou as pessoas do desespero e abrandou ânimos:
- Pouco antes de Jesus ser morto, uma mulher, de nome Maria, amando-o, derramou sobre ele o mais caro dos perfumes. Era tudo o que ela tinha. Ao ungi-lo com seu perfume, ela queria elogiá-lo por tudo o que ele fez e viveu, e ele ficou tão emocionado que a elogiou por seu gesto magnânimo, enquanto os díscipulos a repreendiam porque desperdiçara um perfume valiosíssimo, que poderia ter outras finalidades.
Censurando os discípulos, ele lhes disse que os estava preparando para sua morte, e que onde a sua mensagem fosse propagada o gesto dela seria como um memorial eterno.
As pessoas estavam concentradas em suas palavras. Os que não ouviam direito tentavam se espremer junto aos que estavam mais próximos. A seguir arrematou:
- O Mestre dos Mestres quis demontrar que o velório pode ser um ambiente de lágrimas, mas deve ser acima de tudo um ambiente saturado de elogios e recordações solenes. O luto deve ser um ambiente perfumado, uma homenagem para quem partiu. Um ambiente para contar seus gestos, declarar suas recordações, comentar suas palavras. A maioria dos seres humanos tem algo para ser declarado. Por favor, contem-me os feitos desse homem! Declarem o significado dele na vida de vocês.
Seu silêncio deve alçar voo de nossa voz.
Num primeiro momento, as pessoas olharam umas para as outras, sem reações. Num segundo momento, foi incrível o que sucedeu. Muitos começaram a contar passagens únicas que tinham vivido com ele. Falaram de legado que ele deixara. Alguns comentaram sobre sua gentileza. Outros declararam sua afetividade. Outros discorreram sobre sua bondade e companheirismo. Outros apontaram sua lealdade. Outros elogiaram sua capacidade de lidar com fracassos. Outros, mais relaxados, falaram sobre seus maneirismos. Houve quem dissesse que era apaixonado pela natureza. Um amigo disse:
- Jamais vi alguém tão teimosso e obstinado.- As pessoas sorriram num ambiente em que ninguém sorri, inclusive Antônio e esposa, pois sabiam que ele era realmente um grande teimoso. E o amigo acrescentou: - Mas ele me ensinou que nunca devemos desistir daquilo que amamos.
Foram incríveis vinte minutos de homenagens. As pessoas não sabiam descrever a fascinante experiência emocional que haviam tido. Marco Aurélio estava vivo, pelo menos dentro das pessoas que o velavam. Nesse momento, o mestre olhou para nós, seus discípulos, e brincou, ou nos disse uma verdade, não sei. Comentou:
- Quando eu morrer, não se desesperem. Homenageiem-me. Falem dos meus sonhos, falem das minhas loucuras...".


Este capítulo do livro denominado "Uma solene homenagem" me fez refletir sobre a questão de como o velório é conduzido na nossa cultura.
Digo na nossa cultura porque já presenciei em vários filmes americanos a cena descrita no livro em que nos velórios as pessoas vão até um local apropriado e fazem homenagens para aquela pessoa que está sendo velada.
É claro que isto não diminui a dor, mas pensando bem, se durante o velório um momento fosse destinado para homenagens póstumas, não seria um bálsamo para o coração dos familiares mais íntimos esta sincera homenagem?
Presenciar como a pessoa era querida, ouvir relatos de suas atitutes durante a vida não traria um certo conforto, não aliviaria mesmo que de forma transitória a angústia?
Acredito que sim, se feito sem hipocrisia, tipo daquelas que alegam que todo mundo vira santo depois que morre...  
É algo a ser pensado, e o livro em cada capítulo nos indaga a respeito de valores da sociedade que devem ser ponderados, modificados.

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