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terça-feira, 1 de setembro de 2009

Amor x Sexo por Arnaldo Jabor

Particularmente gosto dos textos de Arnado jabor, este carioca nascido em 1940, cineasta e jornalista.
Arnaldo Jabor já foi técnico de som, crítico de teatro, roteirista e diretor de curtas e longas metragens. Na década de 90, por força das circunstâncias ditadas pelo governo Fernando Collor de Mello, que sucateou a produção cinematográfica nacional, Jabor foi obrigado a procurar novos rumos e encontrou no jornalismo o seu ganha-pão. Estreou como colunista de O Globo no final de 1995 e mais tarde levou para a TV Globo, no Jornal Nacional e no Bom Dia Brasil, o estilo irônico com que comenta os fatos da atualidade brasileira.
Este texto já foi transformado em música...
Amor é prosa, sexo é poesia.
Amor é propriedade. Sexo é posse.
Amor é a lei; sexo é invasão.
O amor é uma construção do desejo. Sexo não depende de nosso desejo; nosso desejo é que é tomado por ele.
Ninguém se masturba por amor. Ninguém sofre com tesão.
Amor e sexo são como a palavra farmakon em grego: remédio ou veneno - depende da quantidade ingerida.
O sexo vem antes. O amor vem depois.
No amor, perdemos a cabeça, deliberadamente. No sexo, a cabeça nos perde.
O amor precisa do pensamento. No sexo, o pensamento atrapalha.
O amor sonha com uma grande redenção. O sexo sonha com proibições; não há fantasias permitidas.
O amor é o desejo de atingir a plenitude. Sexo é a vontade de se satisfazer com a finitude.
O amor vive da impossibilidade - nunca é totalmente satisfatório. O sexo pode ser, dependendo da posição adotada.
O amor pode atrapalhar o sexo. Já o contrário não acontece.
Existe amor com sexo, claro, mas nunca gozam juntos.
O amor é mais narcisista, mesmo na entrega, na doação. Sexo é mais democrático, mesmo vivendo do egoísmo.
Amor é um texto. Sexo é um esporte.
Amor não exige a presença do outro. O sexo, mesmo solitário, precisa de uma mãozinha.
Certos amores nem precisam de parceiro; florescem até na maior solidão e na saudade. Sexo, não - é mais realista.
Nesse sentido, amor é uma busca de ilusão. Sexo é uma bruta vontade de verdade.
O amor vem de dentro, o sexo vem de fora.
O amor vem de nós. O sexo vem dos outros.
'O sexo é uma selva de epilépticos' (N. Rodrigues).
O amor inventou a alma, a moral. O sexo inventou a moral também, mas do lado de fora de sua jaula, onde ele ruge.
O amor tem algo de ridículo, de patético, principalmente nas grandes paixões. O sexo é mais quieto, como um caubói - quando acaba a valentia, ele vem e come.
Eles dizem: 'Faça amor, não faça a guerra'. Sexo quer guerra.
O ódio mata o amor, mas o ódio pode acender o sexo.
Amor é egoísta; sexo é altruísta.
O amor quer superar a morte. No sexo, a morte está ali, nas bocas.
O amor fala muito. O sexo grita, geme, ruge, mas não se explica.
O sexo sempre existiu - das cavernas do paraíso até as “saunas relax for men”.
Por outro lado, o amor foi inventado pelos poetas provençais do século XII e, depois, relançado pelo cinema americano da moral cristã.
Amor é literatura. Sexo é cinema.
Amor é prosa; sexo é poesia.
Amor é mulher; sexo é homem - o casamento perfeito é do travesti consigo mesmo.
O amor domado protege a produção; sexo selvagem é uma ameaça ao bom funcionamento do mercado.
Por isso, a única maneira de controlá-lo programá-lo, como faz a indústria da sacanagem.
O mercado programa nossas fantasias.
Não há “saunas relax” para o amor, onde o sujeito entre e se apaixone. No entanto, em todo bordel, finge-se um 'amorzinho' para iniciar.
O amor virou um estímulo para o sexo. O problema do amor é que dura muito, já o sexo dura pouco.
Amor busca uma certa grandeza. O sexo é mais embaixo.
O perigo do sexo é que você pode se apaixonar. O perigo do amor é virar amizade.
Com camisinha, há sexo seguro, mas não há camisinha para o amor.
O amor sonha com a pureza. Sexo precisa do pecado.
Amor é a lei. Sexo a transgressão.
Amor é o sonho dos solteiros. Sexo, o sonho dos casados.
Amor precisa do medo, do desassossego. Sexo precisa da novidade, da surpresa.
O grande amor só se sente na perda. O grande sexo sente-se na tomada de poder.
Amor é de direita. Sexo, de esquerda - ou não, dependendo do momento político. Atualmente, sexo é de direita. Nos anos 60, era o contrário. Sexo era revolucionário e o amor era careta.
Arnaldo Jabor

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